
Ontem, dia 21 de Julho, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa recebeu, no seu estabelecimento, dois artistas pouco badalados, mas que merecem uma certa de atenção, nem que seja só pelo facto de fugirem aos ditos padrões comuns das novas bandas sensação.
Espelho Mau e La Chanson Noire são tudo excepto “mais uma cara bonita” (aliás, acredito que tudo o que eles menos querem é fazer parte desta categoria). Na verdade levaram-me a apelida-los por “góticos de aspecto”, dada a sua aparência dark side onde se pode encontrar preto por todo o espaço que os rodeia e, principalmente, neles próprios.
La Chanson Noire abriu a noite. O palco adornado de caveiras, velas e velinhas, tinha como personagem principal (e única) Charles Sangnoir, que tinha como papel o de vocalista e pianista. Iniciando-se com “Água Benta”, La Chanson Noire entreteu o seu público com seis temas, algumas caretas (tão especificas daqueles cantores que estão ali de corpo e alma) e algumas piadas lançadas ao ar, tornando assim o ambiente mais descontraído. Após um pequeno intervalo para o habitual cigarrinho e a conversa “sobre o tempo”, subiu ao palco Espelho Mau. O guitarrista e baixista (Alex Hellraiser e Nuno Soares respectivamente) iniciaram os primeiros acordes da música “Perguntaste-me”, enquanto a voz (Paulo Moreira) se desvendava por entre o público e iniciava a sua actuação de costas para a plateia, muito ao estilo de Maynard James Keenan, dos Tool. O público aderiu a esta banda com mais entusiasmo, talvez pelo número de conhecidos do vocalista existentes na assistência, e este presenteou-os com um espectáculo digno de palmas,assobios e com direito a preservativos espalhados pela sala (para os mais necessitados!).
A faceta mais interessante, tanto d’La Chanson Noire como d’Espalho Mau, é a riqueza das suas letras: entre linhas pode-se apreciar sempre uma ou outra mensagem, uma ou outra crítica, sobre o Mundo que nos rodeia. Na verdade, apesar de pouco badalados, estes artistas vão deixando a sua marca pouco a pouco, pois por vezes nem sempre os maiores são os melhores…
Nomeio a letra da canção “Dez menos Seis” (Espelho Mau) e “Pura Merda” (La Chanson Noire) como as melhores do reportório apresentado.
"Era só uma ideia
Um momento sem querer
Uma palavra feia
Dessas que dão prazer
Tu só querias amar
Mesmo na escuridão
Da palavra silêncio
Casada com a solidão
Porque a vida era Bela
Eras rei como os reis
Mas a idade dela eram dez menos seis
(...)
E queres saber porque pagas
Que preço é esse afinal
É os das mãos com que afagas
O teu desejo animal
Porque a vida era bela
Eras rei como os reis
Mas a idade dela eram dez menos seis
Assim vem subir ao trono
Todo ele ira profética
Cadeira do abandono
Tantas vezes eléctrica (...)"
"Dez Menos Seis" - Espelho Mau
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"(...)Gastas sete anos à espera
De uma sorte magra e severa
Já nao me sabes dizer
O que é que te faz correr
Já não me sabes dizer
O que te faz viver
Quero ir ao Ritz
Quero ler o jornal Blitz
Memórias de uma era
Tão funesta e surreal
Discos em vinil
Utopias eram mais que mil
Memórias de uma era
tão distante e tão igual
Tudo isto é pura merda
Isto não é mais que uma espera
(...)
Que se lixe a literatura
O povo já não quer cultura
Só McDonalds para a mente
E um governo que o sustente
Que se lixe a arte em geral
Sê bem vindo a este funeral
Enterro à laia de Estado Novo
Fátima, Fado, Ópio para o povo"
"Pura Merda"- La Chanson Noire