domingo, 22 de junho de 2008

Pequenos GRANDES Talentos

Ontem, dia 21 de Julho, a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa recebeu, no seu estabelecimento, dois artistas pouco badalados, mas que merecem uma certa de atenção, nem que seja só pelo facto de fugirem aos ditos padrões comuns das novas bandas sensação.

Espelho Mau e La Chanson Noire são tudo excepto “mais uma cara bonita” (aliás, acredito que tudo o que eles menos querem é fazer parte desta categoria). Na verdade levaram-me a apelida-los por “góticos de aspecto”, dada a sua aparência dark side onde se pode encontrar preto por todo o espaço que os rodeia e, principalmente, neles próprios.

La Chanson Noire abriu a noite. O palco adornado de caveiras, velas e velinhas, tinha como personagem principal (e única) Charles Sangnoir, que tinha como papel o de vocalista e pianista. Iniciando-se com “Água Benta”, La Chanson Noire entreteu o seu público com seis temas, algumas caretas (tão especificas daqueles cantores que estão ali de corpo e alma) e algumas piadas lançadas ao ar, tornando assim o ambiente mais descontraído. Após um pequeno intervalo para o habitual cigarrinho e a conversa “sobre o tempo”, subiu ao palco Espelho Mau. O guitarrista e baixista (Alex Hellraiser e Nuno Soares respectivamente) iniciaram os primeiros acordes da música “Perguntaste-me”, enquanto a voz (Paulo Moreira) se desvendava por entre o público e iniciava a sua actuação de costas para a plateia, muito ao estilo de Maynard James Keenan, dos Tool. O público aderiu a esta banda com mais entusiasmo, talvez pelo número de conhecidos do vocalista existentes na assistência, e este presenteou-os com um espectáculo digno de palmas,assobios e com direito a preservativos espalhados pela sala (para os mais necessitados!).

A faceta mais interessante, tanto d’La Chanson Noire como d’Espalho Mau, é a riqueza das suas letras: entre linhas pode-se apreciar sempre uma ou outra mensagem, uma ou outra crítica, sobre o Mundo que nos rodeia. Na verdade, apesar de pouco badalados, estes artistas vão deixando a sua marca pouco a pouco, pois por vezes nem sempre os maiores são os melhores…

Nomeio a letra da canção “Dez menos Seis” (Espelho Mau) e “Pura Merda” (La Chanson Noire) como as melhores do reportório apresentado.

"Era só uma ideia

Um momento sem querer

Uma palavra feia

Dessas que dão prazer

Tu só querias amar

Mesmo na escuridão

Da palavra silêncio

Casada com a solidão

Porque a vida era Bela

Eras rei como os reis

Mas a idade dela eram dez menos seis

(...)

E queres saber porque pagas

Que preço é esse afinal

É os das mãos com que afagas

O teu desejo animal

Porque a vida era bela

Eras rei como os reis

Mas a idade dela eram dez menos seis

Assim vem subir ao trono

Todo ele ira profética

Cadeira do abandono

Tantas vezes eléctrica (...)"

"Dez Menos Seis" - Espelho Mau

.

.

"(...)Gastas sete anos à espera

De uma sorte magra e severa

Já nao me sabes dizer

O que é que te faz correr

Já não me sabes dizer

O que te faz viver

Quero ir ao Ritz

Quero ler o jornal Blitz

Memórias de uma era

Tão funesta e surreal

Discos em vinil

Utopias eram mais que mil

Memórias de uma era

tão distante e tão igual

Tudo isto é pura merda

Isto não é mais que uma espera

(...)

Que se lixe a literatura

O povo já não quer cultura

Só McDonalds para a mente

E um governo que o sustente

Que se lixe a arte em geral

Sê bem vindo a este funeral

Enterro à laia de Estado Novo

Fátima, Fado, Ópio para o povo"

"Pura Merda"- La Chanson Noire

sexta-feira, 6 de junho de 2008

ASAE=PIDE???

Poderá ser esta a imagem?

Chocante, mas verdadeira. A ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica) parece fazer jus ao poder que tem e ainda abusar de toda essa força que lhe foi colocada entre mãos.

Apesar das suas funções terem em vista melhorar e assegurar as regras de higiene mínima em todos os estabelecimentos comerciais e fábricas espalhadas pelo pais, beneficiando, deste modo, toda a população portuguesa, este serviço parece começar a prejudicar o Zé-povinho (tal como tudo o que está a ser implementado por este governo).

Tendo nascido a partir de outros organismos já existentes, este serviço de inspecção rapidamente iniciou a sua colecção de proibições e apreensões. Desde o café da ginjinha, tão famoso entre a população mais antiga de Lisboa, até às praças, já passou vista a uma grande percentagem de “mercadorias”. Contudo, consta que o futuro poderá ser mais drástico: investigações descobriram que os inspectores "têm que detectar 124 infracções, levantar 61 processos de contra-ordenação, que vão terminar em coimas, abrir oito processos-crime e fechar ou suspender o funcionamento de pelo menos seis estabelecimentos" este ano (dados revelados por Paulo Portas a 26 de Julho de 2008), isto é, mesmo que tudo esteja em ordem, algo terá que se tornar defeituoso para se poder fazer justiça às previsões.

O mais triste é o facto de algo que poderia vir a melhorar o nível de produção portuguesa, apenas o tem vindo a prejudicar, actuando como algo semelhante à PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado): aplica regras, ordena, despeja, fecha, destrói sem pensar nas consequências. A única diferença é que não mata, pelo menos não directamente. Isto justifica-se pelo seguinte facto: ao fechar fábricas que albergam, como trabalhadores, famílias inteiras, estas irão ficar sem recursos para sustentarem a família. Como consequência, vão morrendo aos poucos e poucos, dada a miséria em que a sua vida se vai transformar.

Porém, é necessário deixar explicito que a ASAE não foi um mau investimento. As regras básicas devem ser respeitadas, mas tudo tem os seus limites. Ao ver a nossa tradição desaparecer com todas estas imposições, é tempo de dizer chega a esta “polícia criminal com capacidade para fazer detenções e apreensões”. Primeiro os enchidos tão tradicionais deste nosso país, agora a doçaria (tenha-se como exemplo o pastel de Tentúgal que está em risco de ser proibido, dada a forma da massa ser cortada – no chão, com um objecto que separa amassa do solo para não existir qualquer tipo de contacto – e por ser barrada com um utensílio caricato: uma pena) e num futuro próximo a bela da sardinha e febra assada ao som da música popular.

Um dia este país, que tanto quer investir no turismo, nada poderá oferecer aos seus visitantes porque até lá tudo desapareceu, devido ao selo colocado pela ASAE. É triste assistir a este desfecho e ver que um bom investimento se tornou na PIDE dos tempos modernos.

Aonde é que vamos parar, meu Portugal tão amado?